terça-feira, julho 14, 2009

Aconteceu comigo

Há poucas semanas estive envolvido em um conflito de interesses. Tudo começou quando eu e um amigo, Bruno, estávamos em uma fila para obter o direito de trabalhar como fiscal de sala em um concurso do Cespe. Era domingo e somente no outro dia, na segunda a partir das 8 da manhã, é que membros do Cespe lá estariam para recolher os nomes de quem lá estava. Bem, todos sabem que em uma situação como essa a preferência é de quem ocupa o primeiro lugar na fila. Ora, isso é obvio, mas o que nem todos sabem é o que caracteriza uma fila. Para mim, se uma pessoa chega a um local e lá aguarda uma noite inteira no frio de 10°C essa pessoa tem preferência sobre os que foram embora e só apareceram após uma boa noite de sono sob o cobertor quentinho. Penso que o leitor provido de bom senso também concorda com o que digo. Pena que nem todas as pessoas possuem este tal bom senso, outros até possuem mas o guardam apenas para o que lhe é de interesse. Naquele dia, naquele domingo gelado, havia muitas pessoas, umas cem, ou mais. Praticamente todas foram contra a proposta do Bruno de se respeitar a fila física, e não uma virtual, pois caso chegasse alguém no meio da madrugada e não encontrasse ninguém, como se resolveria este impasse surgido? O Bruno impôs-se e a todos avisou que lá iria permanecer e quem quer que abandonasse seu lugar por mais de duas horas, tempo em que haveria uma chamada afim de esclarecer quem alí estivesse, seria eliminado da lista dos presentes tendo que depois arcar com as consequências de perda do direito de trabalhar, a menos que novamente pusesse seu nome na lista e se dirigisse a nova colocação na fila. Para muitos não há injustiça na decisão do meu amigo, mas para os espertalhões, os individualistas, a maioria que ali estava, o Bruno estaria errado. Eles disseram, eles impuseram a vontade. Sabe como? Simplesmente usando de dois instrumentos altamente nocivos, caso não se saiba usá-los: a força e o voto da maioria. Foi assim que vi anos de evolução da sociedade sofrer abalo. Foi assim que senti na boca o gosto da cicuta. Sócrates e Jesus, idealistas massacrados por esta infâmia democrática...
Membros do Cespe no dia seguinte mal quiseram ouvir quem ali permaneceu uma noite inteira. Nem fotografia, nem assinatura dos vigilantes atestando que uma chamada era realizada a cada duas oras, nem nada foi capaz de comover quem possuia a força para negociar. Eram cinco contra mais de duzentos, pois, já passada a noite fria, chegavam pessoas, e estas, covardes como humanos normais, decidiam-se a apoiar quem era maioria. Eu, o Bruno e mais três pessoas só não fomos linxados porque felizmente ainda se mantém um mínimo de compaixão dentro de uma universidade. Caro leitor, eram muitos os que concordavam comigo, porém esses não tiveram coragem de defender o justo direito, preferiram calar-se.
Fomos chamados de racistas, pois muitos dos que foram para casa dormir eram os africanos da universidade e, estes mesmos, assim nos denominaram. A marca de conspirador, de traidor, de canalha sonhador carrego até os dias de hoje, simplesmente por dar apoio ao jovem amigo, conscio do seu direito e do seu dever, mas que não tinha como se proteger.
Nunca tive manifestações de racismo na minha vida. Muito pelo contrário: sou defensor do humanismo, valorizo cada indivíduo como ser único nesta Terra. Pelo conteúdo do meu blog, o leitor percebe que meu caminho é o do amor, da paz. E como, leitor, permanecer lúcido em um mundo como este em que o individualismo esmaga a vontade de se viver algo melhor? Acho que a resposta está no próprio ato de continuar vivendo sem temer o mal. É preciso amparar-se nos ensinamentos de quem lutou e ainda luta por um mundo menos injusto, menos cruel. Parece que não há solução para esta raça chamada humana, para esta civilização que pelo seu avesso deteriora o homem. Mas, só parece, pois um sonho pode se tornar realidade caso se arquitete sua concretude, e o sonho de um mundo melhor começa a se tornar realidade se em cada coração ele não se apagar. Se ele se mantiver aceso como uma fogueira que esquenta, ilumina e coze o alimento aí sim: realização. Tenho muitos amigos que compartilham comigo o sonho de um mundo melhor e é ao lembrar deles que me mantenho firme perante a hipocrisia e o despotismo de uns muitos individualistas. Acho que minha guerra não é contra pessoas mas sim contra uma idéia, a idéia de que o mundo é dos mais fortes dos mais espertos, dos mais ricos, vou seguindo o meu caminho recrutando pessoas para o imenso exercito que um dia a de se formar visando incomensuráveis batalhas ideológicas...
Obrigado, leitor, por me acompanhar até aqui. Fico feliz por saber que alguém lê o que escrevo, por que escrevo para perpetuar meu existir dentro de cada um de vocês.
A luz nos acompanha nas trevas da ignorância.
Guru= Gu + Ru
Gu= trevas
Ru= aquele que dissipa

Um comentário:

Daniel disse...

Conte-me nesse exército maravilhoso da luz. A falta de coragem é complicada. Mas saber que muitos silenciosamente concordavam contigo no coração é esperança que um dia eles possam defender a bondade e a justiça com uma nova coragem.

Essa história de vocês 5 foi inspiradora. Já participei de episódios muito parecidos, mas, infelizmente, do lado calado da história.